O frio atinge meus
ossos, meus olhos refletem o café amargo que reservo na caneca enquanto sento na
janela. Não passa gente, não passam carros, não passa a dor e não passa o frio.
Seguro a caneca com as duas mãos e chego o rosto mais perto para aquecer o
nariz com a fumaça do café.
Fecho os olhos. Sinto
que já não sou boa em me expressar, já não sei fazer o que tanto amo. Talvez eu
já não saiba amar ou o que amar ao certo. Encosto a cabeça na parede e encolho
as pernas. O que fazer quando precisamos fugir do lugar onde nos refugiamos? O
que fazer quando sua fortaleza começa a ser seu ponto fraco? Deixa a lágrima
cair, deixa bater no vidro como a chuva que vem chorar como companheira. Talvez
eu não esteja tão só.
Abaixo o rosto,
chego mais perto, mas o café agora não me é tão interessante, já está ficando
como eu: frio e precisando de mais doce. Pinga a lágrima na caneca pra salgar
de vez. Largo ela de lado. Abraço a perna e fecho os olhos com força, forço o
rosto contra os joelhos. Tem vezes que os sentimentos doem, sabe? Dor física
mesmo, dor de escorrer pelo rosto e fazer soluçar. Tem vezes que a boca não
sabe soltar o que o coração não agüenta mais prender. Daí a gente conversa com
silêncio, escuta a chuva e chora baixinho pra ninguém escutar.
Fico de olhos
fechados mais um pouco, faz bem olhar pra dentro da gente. Deixo o coração
retomar o fôlego e limpo a chuva dos meus olhos com a manga do casaco. Dou um
nó no cabelo, coloco meu pé com meias no chão e vou pra cama sonhar com um
amanhã melhor. Mas antes, pego a caneca e ponho no lugar o qual ela pertence.
Ninguém merece ficar sozinha largada na sala. Nem ela, nem eu.