sábado, 26 de setembro de 2009

As semelhanças que nos diferenciavam.

Éramos o oposto um do outro, e ao mesmo tempo parecíamos ser a mesma pessoa. Éramos bonitos e transpirávamos brisa, tínhamos sonhos e esses eram quase os mesmos. Tínhamos a alma tão parecida, com credos diferentes, mas com ações iguais, nossas opiniões eram quase sempre as mesmas e nos entendíamos das mais inusitadas formas que se pode ou não imaginar. Nosso corpo sim, esse era diferente: éramos o oposto desde a caspa dos cabelos até a sujeirinha das unhas do pé. Isso era o que nos fazia ainda mais bonitos, as semelhanças entre nós que nos diferenciava de todo o resto. Éramos lindos. Se não pra mim, para ele.

Éramos jovens, jovens e cheios de vida, cheios de sonhos e de histórias. Gostávamos de música, de arte e de risadas, gostávamos da palavra imoral porque queríamos sê-la. Éramos tristes porque tínhamos a todos, porque éramos amados por todos, mas não amávamos a ninguém e, por isso, também não tínhamos ninguém. Tínhamos um ao outro, mas disso ainda não sabíamos, tampouco não sabíamos que desde sempre nos amávamos mutuamente. Tínhamos ânsia de viver e achávamos o mundo adocicado demais para nós. Trocávamos qualquer leitura sob uma frondosa árvore no bosque por um passeio ao shopping de ônibus, mas amávamos a natureza e a respeitávamos como suprema mãe. Jurávamos companheirismo eterno, mas discordávamos a respeito de onde viveríamos no futuro. Criávamos. Nós éramos dois ilimitados e incompreensíveis criadores lúdicos e admirávamos um ao outro com cautela para que a admiração não se tornasse amor. Nós não sabíamos que há tempos esse já habitara em nós. Falávamos dos nossos problemas e aconselhávamos um ao outro, embora os conselhos fossem desprezíveis já que nossos problemas no fundo eram os mesmos: tínhamos medo. Tínhamos medo porque éramos livres, felizes e imorais enquanto no nosso mundo, e éramos presos a este mundo particular e a nossa solidão de estimação. Na verdade, éramos presos um ao outro e, se não éramos, nossos corações gritavam incansavelmente para que fossemos. Queríamos inconscientemente e incessantemente descobrir o que havia entre nós, mas tínhamos demasiado medo de que isso roubasse-nos o prazer de sermos maus e cobiçados. Não que fôssemos, mas superficialmente acreditávamos ser. Não sabíamos se gostávamos mesmo da solidão ou se já havíamos nos acostumado com ela, não sabíamos se éramos solitários sozinhos ou se tornamo-nos dois solitários que curtiam a solidão juntos. Seria possível? Para nós tudo era possível, exceto ouvir pagode tomando uma cervejinha com a galera no boteco da esquina. Isso nos dava nojo. Não sabíamos nos definir, porque para nós éramos indefinidos, diferente de tudo e de todos, nós éramos incomparáveis, insubstituíveis. E éramos mesmo. Se não para os outros, pra nós.

Em meu quarto escuro, ao meu ouvido soava o ventilador barulhento, e ao meu coração soava sua risada desengonçada que também me roubava um sorriso calmo e um fechar de olhos terno. Eu não me contentaria em secar suas lágrimas, eu precisava arrancar-lhe sempre seu melhor sorriso. Eu acreditava que ele também me amava e, por eu acreditar, ele amava. Se não para os outros, ao menos pra mim.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

céu de seda em dias de nuvens de pipoca.

Lembro bem quando o vi: meus olhos dilataram com a surpresa de duas mãos pesadas estendidas em minha direção carregando meu frágil tesouro. Agarrei-o firme contra o peito e corri para onde pudéssemos ficar sozinhos. Sentei naquela grama seca, abaixo de uma árvore de copa grande com folhas avermelhadas de primavera, mas que me lembravam mesmo o outono. Em minha volta árvores, grama e a imensidão do nada. Era o lugar ideal para o nosso primeiro encontro.

Fechei meus olhos, deitei-o em meu colo e corri meus dedos sentindo cada detalhe da capa, cada relevo, cada ruga que arrancava um sorriso voraz dos meus lábios miúdos rosados pelo frio enquanto o vento dançava pelos meus cabelos. Abri lentamente os olhos e examinei minuciosamente as cores dos relevos pelos quais meus dedos corriam. Era ainda mais bonito, era ainda mais vivo que todo aquele nada infinito que nos cercava. Sim, foi amor à primeira vista. O verde azulado, cor de céu feito de seda em dias de nuvens de pipoca, predominava e me dominava, fazia-me livre, prendia-me a ele. Depois de muito olhar, depois de entregarmo-nos completamente um ao outro, percebi alguns amassados, algumas falhas que não mais me importavam, fui seduzida, estava indiscutivelmente apaixonada.

O vento balançava forte e duas gotas caíram sobre meu amado. Naquele momento, aquelas duas gotas pesavam para mim toneladas e eram cruéis, muito cruéis, fazendo-me sentir dor como a da mãe que perde o filho pra sempre. Apertei-o contra meu peito, como se quisesse que ele entrasse verdadeiramente em meu coração, embora lá já estivesse cativo, para que eu pudesse assim protegê-lo das milhões de gotas cruéis que viriam contra ele. Corri com todas as minhas forças até que meus sapatos gritam implorando para que eu parasse. Parei, arranquei os sapatos e continuei correndo. Quando parei, eu já não sentia meus pés e meus lábios rosados miúdos eram cor de amora e tremiam com minha respiração ofegante. Sabia que faria o possível para defendê-lo, mas não sabia até quando ele aceitaria a minha defesa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Além do que se vê

Andando na rua, costumamos rotular espontaneamente pessoas que nos rodeiam. É como se tivéssemos grupos onde encaixássemos cada um. Não somos bonecos, não fomos moldados, somos um diferente do outro, sempre haverá uma diferença. É como comprar batatas, por exemplo. Batata vai ser sempre batata, mas tem uma mais gordinha, outra menorzinha, uma machucadinha, outra mais lisinha.. Mas são todas batatas, não são? Todas tem o mesmo sabor, não tem? Estão todas a venda, não é mesmo?

Eu até concordo que o jeito de falar, se vestir e agir diz muito sobre uma pessoa, mas acho um absurdo qualquer tipo de predefinição, se é que você me entende, eu discordo que olhando uma pessoa que você nunca viu, não sabe da história, andando na rua você pode traçar a personalidade e o caráter da mesma. De forma nenhuma! Sem contar que sempre tem aquelas referências, se o Enrique ler esse post ele vai concordar nisso comigo, não tem referência maior que a do gordinho. Tem a referência da loira, da morena, da ruiva, do alto, do baixinho..Mas se em meio a todos esses estiver um gordinho, eu ponho a mão no fogo com álcool como ele vai ser a referência. Vem cá, qual o problema com o pobre do gordinho? Levanto então uma outra questão, o padrão de beleza imposto pela sociedade. Biótipo de mulher ideal? Cabelo liso, loiro, olhos claros, magra, sorriso colgate e bem cuidada. Já parou pra pensar que a baixinha, gordinha, de cabelo vermelho e olho castanho pode ser milhares de vezes mais legal e infinitamente mais inteligente que a loira? Já parou pra pensar que o monstrinho pode te fazer muito mais feliz que a gostosona? Não acho que é beleza interior, porque você não vai sair por aí perguntando “- Oi, você tem um rim bonito? Ah, porque meu esôfago é meio caidinho, agora meu pâncreas é uma maravilha hein..” (Ta,foi uma péssima piada,mas eu ri). Eu falo de conteúdo, falo de valores, eu falo de você conhecer as pessoas, de deixar que elas te cativem. Não julgue os outros pela aparência e não se sinta mal por ser como você é. Cara, o importante é você, é como você se sente. Não é aceitar que é gorda e tem cabelo duro achando que um Deus grego vai surgir em meio ao nada e perguntar pelo seus pâncreas (ri de novo). Entra em uma academia, compra uma chapinha e tá tudo certo. Mas faça por você e não pelo outros, arrume-se para você, sinta-se bonita, não sossegue enquanto não olhar no espelho e pensar “Uau, se eu não fosse eu, eu me pegava!”. Autoconfiança é o segredo, se você passar para as pessoas que você é um monstrinho, é assim que elas vão te ver. Se você não tem os olhos do Enrique, se você não tem a barriga da Mayara, se você não tem o cabelo liso como o do Rafa, se você não tem o sorriso da Fatinha, não chora porque eu não tenho nada disso e eu sou feliz. Não vou comprar uma lente, uma chapinha e não vou entrar na academia nem vou gastar fortunas com dentista, listerine e sensodine, porque eu sou feliz do jeito que eu sou. Eles podem ter isso tudo, mas não adianta porque eu tenho algo que eles não tem, assim como você tem algo que ninguém tem igual. Você é preciosa, você é precioso, você não é igual a ninguém, por isso para de tentar ser como os outros, para de tentar ser como a sociedade diz que você deve ser e aflora o que você tem melhor, busca se conhecer melhor e explora seu ponto forte. Quem me conhece sabe que eu sou um saco, eu reclamo que to gorda, que odeio meu cabelo, que minha pele tá um lixo e que só amo minha unha, e a da mão, porque o meu pé eu odeio também. Porque você acha que eu mudo de esmalte coisa de três vezes na semana? Porque você acha que eu adoro uma pulseira, um anel? Porque eu tenho cabelo feio e estou gordinha, então vamos focar a atenção pra parte boa em mim, vamos fazer a unha chamar atenção!

Brincadeiras à parte, eu aprendi a ver que as pessoas vão muito além do que elas vestem, vão muito além do cabelo que elas usam, vão muito além da cor dos seus esmaltes, da marca da bolsa, as pessoas vão muito além do que podemos ver. Aprendi que se alguém não é como você quer, talvez ela seja o que ela pode ser, ela esteja buscando ser quem ela quer ser. Eu aprendi a ver com o coração, pois, já dizia Exupéry, nas horas graves nossos olhos são cegos. Descobri, portanto, que ninguém pode ter uma única definição a respeito de quem é, porque somos vistos em momentos diferentes, por olhos diferentes, com concepções diferentes e opiniões diferentes. Basta que cada um se aceite como é, e respeite como o outro é também. Eu espero, de verdade, que esse post mude um pouquinho a sua opinião e que a partir de hoje você perceba que cabelo preto, olhos castanhos e uma gordurinha a mais pode ser legal. Digo por mim mesma, literalmente.


Por Dayana Nóbrega,
Aquela fora do padrão de beleza imposto pela sociedade que finge que está se lixando pra isso, mas comprou quatro cores novas de esmalte essa semana.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Primavera

Uma dor forte do peito, um aperto que mais parece uma bomba preste a explodir. Eu odeio não te odiar, odeio querer tanto você por perto. Sabe, às vezes eu faço pouco caso, eu finjo que você nem é tão importante assim, mas há tempos eu queria mesmo é poder dizer que você se tornou a coisa mais importante da minha vida e que, mesmo que para você seja indiferente, você despertou sentimentos adormecidos em mim, você me levou a explorar sensações que antes pra mim não existiam, você provocou a metamorfose das lagartas que tanto me incomodavam tornando-as lindas borboletas, as mais coloridas, que se agitam no meu estômago quando sentem sua presença, quando ouvem tua voz ou simplesmente o teu nome. Você consegue os meus mais lindos sorrisos quando lembro dos teus sorrisos pra mim, a sua luz me atinge de tal forma que é visível o teu brilho nos meus olhos, é notado até mesmo por desatentos. O que você me faz sentir vai muito além do que os olhos podem ver, vai além do que eu mesma posso entender, é mais que encanto, o que você me dedica, ainda que não somente a mim, seduz cada célula do meu corpo e as envolve de uma energia ímpar que me contagia por inteiro e faz com que eu me sinta bem de uma forma surreal. Eu escrevo facilmente para você, eu escrevo facilmente sobre você, porque pra ti sobram-me sentimentos que eu, infielmente, traduzo em palavras. Por mais irritada que eu esteja com você, sabes que te perdôo sem que precises se esforçar muito, você sabe como é fácil você me deixar feliz, não precisa muito para que eu desista de desistir de você. Não sei se isso é bom, sei que não deveria achar bom pra mim, sei que me faz mal tanto quanto me faz bem e não sei se eu saio ganhando. Eu não sei se ganhar é o melhor quando penso que ganhar significaria perder você. Então eu continuo não sei porque, não sei pra aonde, não sei até quando, continuo por mim, continuo nessa ilusão gostosa que me deixa em êxtase. Já faz tempo que eu precisava dizer que eu percebi que eu não posso escolher de quem gostar, eu não posso escolher quem me faça bem e não devo esperar demais das pessoas. Eu não posso cobrar de você sentimento nenhum, mas enquanto você planta flores de esperança em mim, ainda que eu não saiba ao certo quais frutos brotarão, as borboletas que você cativou não se aquietarão e trabalharão de flor em flor nesta primavera que você mesmo fez surgir.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o seu amor pode estar do seu lado

Eu não sei porque isso aconteceu, mas como ou porque não é o que interessa agora. Eu te conheci há muitos anos e agora eu percebi que a felicidade poderia vir de onde eu menos esperava. Eu não vou mentir, eu não lembrava de você, eu nunca me dei conta sua presença tão notável. O destino cruzou nossos caminhos este dia e ele segue ligado, mesmo eu não sabendo disso até quando o teu sorriso me cativou e, acredite ou não, eu me tornei dependente de você. Foi involuntário, pouco a pouco este menino que transparecia uma doce inocência me conquistou, mesmo sem eu perceber. Confesso que errei com você, mas errei tentando acertar e espero, de todo o meu coração, que não tenha feito você esperar tempo demais, se é que ainda há tempo. Eu descobri que o que eu sinto por você é muito sincero e só vou saber o que é de verdade quando eu me permitir descobrir. Por isso, meu menino, eu não vou desistir fácil de você.

pedacinhos de estrelas

Eu lembrava os olhos dele que brilhavam como se fosse composto por partículas de estrelas e, ao lembrar, meus olhos também brilhavam. Não por estrelas, mas sim por lágrimas geladas que eu prendia em minhas pálpebras escuras e pesadas. Eu lembrava da doçura que aquele olhar trazia, da confiança que me passava, do bem surreal que me transmitia. Quanto aos dias ruins eu fazia questão de não lembrar, eles não me importavam.

Não havia para onde correr e eu sentia meu coração bater forte como se fizesse força para sair do meu corpo, como se dissesse que também não aguenta mais. Eu procurava justificativas inviáveis para sinais óbvios de que aquelas estrelas continuariam se apagando aos poucos, uma a uma, e eu não poderia fazer absolutamente nada. Sinto muito, eu não queria ter feito das estrelas dos teus olhos o meu céu, eu não queria fazer da luz teu sorriso o sol dos meus dias, eu não queria ter feito de ti o meu Deus. Agora meu mundo gira em torno de você, mas parece que estamos em órbitas diferentes. Eu não sei se te peço pra ficar porque nunca te tive aqui, mas eu não queria que você fosse. Eu vou sentir falta do teu perfume de primavera quando me abraçava e daqueles momentos mais irrelevantes os quais você não lembra e na verdade são os que mais me encantam.

As gotas da chuva batem no vidro da janela e ao mesmo tempo em que lembram você deitado no meu colo enquanto eu lhe fazia carinho e tratávamos de assuntos levianos, cada gota parece mais um pedacinho daquelas estrelas que continuam caindo e me lembrando que momentos como esse não voltarão a acontecer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

prestidigitação.

Meus pés movimentavam-se conforme a música enquanto meus dedos bailavam sobre o teclado e eu pensava o que escrever. Eu olhava para o monitor e confiava que Deus olhava por mim. Fechei os olhos. Levantei para por mais água no girassol que iluminava o quarto e olhei pela janela. Estava chovendo. Não peguei a bolsa, não calcei o sapato, mas saí.

A chuva fria tocava minha pele e aquecia o coração, apagava os problemas. Eu corria, corria minha mão pelo meu cabelo molhado pesado e corria do comodismo tentando fugir da mesmice. Pulei a poça, me pendurei na árvore, dancei com o morador da rodoviária e ganhei um sorriso singelo de uma pequenina que a mãe arrastava pelo punho.

Cheguei em casa e me joguei na cama degustando minuciosamente o sabor da liberdade enquanto minha mãe emitia sons os quais não me preocupei em identificar. Abri os olhos e vi à minha frente a folha em branco do Word, o sol reinava absoluto lá fora e os sons que minha mãe emitia não eram tão estranhos, parecia meu nome.