Lembro bem quando o vi: meus olhos dilataram com a surpresa de duas mãos pesadas estendidas em minha direção carregando meu frágil tesouro. Agarrei-o firme contra o peito e corri para onde pudéssemos ficar sozinhos. Sentei naquela grama seca, abaixo de uma árvore de copa grande com folhas avermelhadas de primavera, mas que me lembravam mesmo o outono. Em minha volta árvores, grama e a imensidão do nada. Era o lugar ideal para o nosso primeiro encontro.
Fechei meus olhos, deitei-o em meu colo e corri meus dedos sentindo cada detalhe da capa, cada relevo, cada ruga que arrancava um sorriso voraz dos meus lábios miúdos rosados pelo frio enquanto o vento dançava pelos meus cabelos. Abri lentamente os olhos e examinei minuciosamente as cores dos relevos pelos quais meus dedos corriam. Era ainda mais bonito, era ainda mais vivo que todo aquele nada infinito que nos cercava. Sim, foi amor à primeira vista. O verde azulado, cor de céu feito de seda em dias de nuvens de pipoca, predominava e me dominava, fazia-me livre, prendia-me a ele. Depois de muito olhar, depois de entregarmo-nos completamente um ao outro, percebi alguns amassados, algumas falhas que não mais me importavam, fui seduzida, estava indiscutivelmente apaixonada.
O vento balançava forte e duas gotas caíram sobre meu amado. Naquele momento, aquelas duas gotas pesavam para mim toneladas e eram cruéis, muito cruéis, fazendo-me sentir dor como a da mãe que perde o filho pra sempre. Apertei-o contra meu peito, como se quisesse que ele entrasse verdadeiramente em meu coração, embora lá já estivesse cativo, para que eu pudesse assim protegê-lo das milhões de gotas cruéis que viriam contra ele. Corri com todas as minhas forças até que meus sapatos gritam implorando para que eu parasse. Parei, arranquei os sapatos e continuei correndo. Quando parei, eu já não sentia meus pés e meus lábios rosados miúdos eram cor de amora e tremiam com minha respiração ofegante. Sabia que faria o possível para defendê-lo, mas não sabia até quando ele aceitaria a minha defesa.
"Sabia que faria o possível para defendê-lo, mas não sabia até quando ele aceitaria a minha defesa. "
ResponderExcluirFrases assim me fazem te admirar mais ainda como escritora e pensadora Q
ARRASOU!
Ai amiga, é aquele amante de qm vc tanto flava naum é???
ResponderExcluirCarak, realmente mt show....
vc se sentiu como ele em vc....
Puts....
emocionante....