Já sentiu falta de ser o que
ainda se é? Eu sinto falta de ser sua, e por isso eu escrevo cada dor que não
consegui chorar. Eu escrevo cada dia que não consegui viver e cada sorriso teu
que não soube como roubar. Escrevo cada beijo que precisei pedir e todo e
qualquer carinho que suscitou a esperança. Escrevo aquele abraço, o único gesto
que fomos capazes de realizar diante do medo do que não sabemos, ou não
queremos saber.
Já precisou fugir do teu refúgio?
Eu escondo as memórias debaixo do tapete do tempo. Escondo as tardes na sala da
frente e os olhos esquecidos nos olhos do outro por horas a fio, e cada fio de
cabelo teu que eu já conheço. Eu me alimento da dúvida de ainda sermos verdade
e da incerteza de que o fim é certo. Eu me escondo de mim, porque só
encontro-me em você, e já faz um tempo que não te acho mais nada.
E aí eu fico pensando o que será
da minha prosa quando a minha melhor poesia for embora. Eu fico pensando qual
será minha fala quando tudo for falta. Uma letra a mais, um chão a menos. Já
foram as fotos, já foram os despertares de cada manhã... Então, boa noite, meu
amor, porque é o que ainda nos resta.