domingo, 30 de janeiro de 2011

nota: não esquecer de deixar as chaves

Meio copo e dois cubos de gelo, é sempre assim. Minha música do amor não soa tão doce esta noite. Nada é doce esta noite, nem mesmo o último pedaço de doce que eu guardava durante algumas semana na geladeira. A noite é quente, mas o céu não tem estrelas, teus olhos roubam todas. Ah, teus olhos... Como me encantam, como me instigam, como me devoram em segundos e depois se perdem na multidão. Ah, mas que danados são esses olhos que me fazem acreditar em você. Não mais.

O gelo derrete e deixa minha bebida aguada, assim como minha vida. Mas isso vai mudar, porque eu vou pegar toda essa água e tomar um banho, pegar toda essa amargura e me por de luto, vou usar um vestido preto e sair por aí, procurar uma bebida, um limão e uma pitada de sal que precisem de uma companheira. Vou conhecer gente nova, vou encontrar gente velha, vou dar adeus aos meus medos e paradigmas, esta noite eu vou voar. Ah, eu posso voar tão alto e encontrar estrelas tão mais brilhantes, que estas nos teus olhos vão deslizar pelo canto do teu rosto junto com o gosto da sua boca e cair no chão. Vão lavar a rua, alimentar tua culpa e tua solidão. Vão ser frias como tuas mãos, mas não te preocupes que secarão rápido como teu carinho.

Não espere que eu faça isso pra esquecer-me de você. Eu faço isso pra lembrar-me de mim, pra lembrar que eu não preciso me esquecer de nós se você não se lembra de mim por nem ao menos me conhecer. Eu só preciso lembrar de deixar a chave no esconderijo para empregada, porque hoje eu não sei se eu durmo em casa. Aliás, eu não sei nem se durmo. Até nunca mais, não foi bom conhecer você.

3 comentários:

  1. Você sempre se supera. Posso dizer hoje que é minha escritora preferida, disparando luta com Cecily von Ziegesar, a criadora FODA da série Gossip Girl de livros. Entre os meus tops, estão você, Bruno Batiston e ela. Mas vamos falar do texto. Os olhos sempre se mostram tão poderosos, né? Se todos os humanos soubessem a grandeza de mostrar a alma através de um simples olhar, todos nós estaríamos no escuro. Mas, de uma maneira ou de outra, conhecê-lo tenha sido bom, afinal. Ela saiu, lembrou de si. Isso porque ele esteve na vida dela para que ela, no mínimo se esquecesse. Não há como lembrar do que não esquecemos. Há males que vêm para o bem. E nem mesmo por isso a cor de um vestido precisa ser preta. Em meus dias de luto, uso as cores que roubam minha alma.

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  2. Intenso.
    Eu consigo visualizar muito bem seus textos amor. São cenários ricos e personagens complexos. Me satisfaço com eles.

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  3. Costumam dizer que os olhos são as janelas da alma, mas quando se trata dos olhos de quem se ama são mais uma porta para um precipício. Não tem volta! Lá a gente se faz, idealiza, a gente ama. Lá é onde queríamos sempre nos encontrar. Refletida nos olhos dele. É horrível quando a corda que te salva desse precipício não tem na outra ponta as mãos, mesmo que frias, dele. E é então que numa atitude desesperada agimos compulsivamente para provar mas do que para o mundo, para nós mesmos, que somos capazes de escalar a dolorosa subida para a realidade nova, sem ele, porém, mais nossa do que nunca.
    Parabéns, parabéns, parabéns! É um texto intenso, lindo!

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Comentários serão sempre lidos com muito respeito, o mesmo respeito que eu espero que os leitores do Lemon Drops usem. O bom senso forma uma opinião sensata e faz o bom crítico!