quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O oposto atrai o ideal.

Um vestido branco que bailava junto ao vento, os cabelos dourados modelados até a cintura, movimentos delicados e olhar receoso sempre voltado para baixo. Pelas terras por onde ela passava com seus pés descalços, nasciam flores e, quando chorava, suas límpidas lágrimas regavam-nas dando-as vida. Essa não era ela. Ela usava uma calça jeans, cabelo tingido e irregular pouco abaixo do ombro e olhar sinuoso. Calcava os pés cansados calçados em um salto alto pelo chão sujo, no asfalto quente e, quando chorava, as lágrimas escuras borravam sua maquiagem mal feita. Vê-la me acalmava muito mais do que ver a moça do vestido branco. Tinha aproximadamente dezessete anos e, embora para as pessoas fosse o retrato da perdição juvenil, eu podia ver nela algo mais.

Ela estava sentada olhando a praia. Eu não sabia se era o início do seu dia ou o fim da sua noite, não sabia se ela ia dormir linda ou se acordava maravilhosamente bonita. Eu sabia que, por mais que estivesse incrivelmente linda, ela estava incrivelmente irritada. Eu me sentei ao lado dela e não disse nada. Podia ouvir a música alta do seu ipod. Tentei por uns minutos identificá-las, mas logo desisti, aquelas músicas não faziam o meu tipo. Já ela...

Demorou coisa de dez minutos para ela me notar e, quando percebeu que eu estava ali somente por sua causa, fixou os olhos nos meus por menos dois segundos e devolveu-os ao mar. Ela olhava como quem vê sua alma pelos olhos, ela olhava como quem desvenda teus segredos sem precisar te conhecer. Mas eu precisava a conhecer, eu estava entregue à aquele mistério, eu estava entregue à ela. Permaneci sentado. Ela virou o rosto furiosamente e fitou os olhos em mim e, quando esperava que ela levantasse e me deixasse sozinho, ela me ofereceu o seu fone direito erguendo as sobrancelhas. Não peguei o fone e perguntei seu nome já ciente que não receberia a resposta. Ela pôs o fone no ouvido, abaixou as sobrancelhas e voltou a olhar para o vai e vem das ondas. Alguns minutos depois, ainda olhando para frente, ela disse ‘Sara’ e olhou-me, com projeto de sorriso no rosto. Foi o sorriso mais lindo que já recebi. A maresia sempre me lembra o cheiro do seu pescoço, músicas do Queen sempre me lembram daquela manhã que se estendeu até a noite.

Um comentário:

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