sábado, 31 de outubro de 2009

vento à ventura

Pus meu ipod no ouvido e saí por aí olhando para o chão com os fones quase estourando meus tímpanos. Eu, ao contrário do volume do ipod, estava pra baixo, estava meio desanimada. Continuava andando, ia cada vez mais rápido e sem querer esbarrei em um rapazinho que carregava um violão e tinha um rosto me parecia familiar. Não era possível, era ele mesmo e, depois de todas lágrimas que me fez derramar, depois de um bom período de troca de ofensas, estávamos ali, civilizados e sorrindo um para o outro.

Subitamente rendi-me ao impulso de entrelaçar meus braços em seu corpo e o apertar forte com um abraço de saudade que, surpreendentemente, me foi retribuído na mesma proporção. Por alguns instantes não conseguimos falar nada, parecíamos conversar por telepatia e assistir ao mesmo filme passando em nossa frente. Sorríamos um para o outro como velhos amigos, o que, definitivamente, não éramos. Depois de alguns instantes em êxtase, sentamo-nos e, ainda sorrindo, contamos as poucas novidades que conseguimos lembrar. Jamais imaginaríamos que sentaríamos para conversar, imaginaríamos menos ainda ser tão prazeroso. Não precisei insistir muito para que ele pegasse o violão e tocasse algumas coisas para mim. Tocou algumas músicas novas que ele havia feito e, apesar de resistir um pouco fazendo charme, tocou a minha música favorita, dele mesmo. Enquanto ele tocava e cantava com os olhos fechados, eu podia ver a mesma pessoa, eu via que ele não mudara nada: continuava o mesmo canalha que tinha lindos sentimentos e não queria deixá-los fluir. O sorriso brilhava da mesma forma e a voz ainda soava sempre como música aos meus ouvidos. Não como a música que eu estava ouvindo, uma música que entrava em mim e fazia minha alma dançar ao som da sua voz.

Já eu havia, mudado muito e, embora tivesse me esforçado para gostar das suas gracinhas, ele era só um velho caso que me causava uma nostalgia deliciosa. Conversamos por alguns minutos e depois nos despedimos, ambos com uma visível satisfação em rever-nos. Eu não entendia como, mas a tempestade havia passado e fora ele quem colorira um arco-íris em mim naquela noite. Às vezes reclamamos do vento frio, enquanto é ele que afasta as nuvens que cobriam nosso sol, é ele quem vem nos trazer a luz de volta.

Um comentário:

  1. "Já eu havia, mudado muito e, embora tivesse me esforçado para gostar das suas gracinhas, ele era só um velho caso que me causava uma nostalgia deliciosa."

    euri

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